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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Figura Ilustre de Vila Real

Camilo Castelo Branco



Camilo Castelo Branco é o nome mais conhecido e pelo qual o escritor e romancista (além de cronista, crítico, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor) Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco se notabilizou na literatura.
Teve uma vida atribulada que lhe serviu muitas vezes de inspiração para as suas novelas. Foi o primeiro escritor de língua portuguesa a viver exclusivamente dos seus escritos literários. Apesar de ter de escrever para um público, sujeitando-se assim aos ditames da “moda”, conseguiu ter uma escrita muito original.
Camilo Castelo Branco, primeiro visconde de Correia Botelho, nascido a 16 de Março de 1825, era filho natural de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco, duma família afidalgada de Vila Real e de D. Jacinta Rosa de Almeida do Espírito Santo, com quem não casou, mas de quem teve os seus dois filhos. Camilo foi assim perfilhado por seu pai em 1829, como "filho de mãe incógnita".
Foi órfão de mãe quando tinha apenas 3 meses de idade sendo entregue a uma pobre mulher de Coimbra para o amamentar. O seu pai morreu quando Camilo tinha nove anos de idade.
Ficando assim deserdado, em completa orfandade, os parentes paternos tomaram conta da pobre criança, que foi entregue aos cuidados duma tia de Vila Real, D. Rita Emília da Veiga Castelo Branco. Parece que se não deu bem com a sua protectora, porque duas vezes tentou fugir-lhe, uma vez para o Porto e outra para Lisboa, sendo de ambas as vezes obrigado a voltar a casa, indo então viver na aldeia de Samardã em 1839, para casa dum seu tio (e da sua irmã), o padre António de Azevedo, que lhe deu as primeiras lições de latim e de cantochão, com o qual rezava os ofícios divinos do breviário, e a quem ajudava à missa de madrugada.
Com apenas dezasseis anos, Camilo casa, em Ribeira de Pena a 18 de Agosto de 1841 com uma menina mais velha do que ele, Maria Joaquina Pereira de França, de S. Cosem de Gondomar e instala-se em Friúme (Ribeira de Pena). O casamento precoce parece ter sido resultado de uma mera paixão juvenil, não tendo resistido muito tempo. Nesse ano veio para Lisboa para espairecer paixões precoces que o assoberbavam, donde os parentes o fizeram sair por falta de recursos, e em 1843 apareceu no Porto a matricular-se em 16 de Outubro na Escola Médico-cirúrgica. A vida de estudante pobre nesta cidade burguesa e endinheirada, pelo isolamento a que era forçado, fortificava-lhe o temperamento sarcástico e observador, que viria a fazer de Camilo Castelo Branco um romancista, dando por fundo dos seus quadros esse velho Porto.
Indo para Coimbra completar os preparatórios do Liceu foi preso na Relação do Porto, onde entrou a 16 de Outubro de 1846, a requisição da família, por motivo duma aventura amorosa com D. Patrícia Emília do Carmo, de Vila Real, de cujas relações nascera uma filha.
Neste período, o país estava em lutas tormentosas de cartistas contra setembristas, e na cadeia conheceu muitos presos políticos; durante o pouco tempo de detenção adquiriu essa desdenhosa indiferença que o afastou de todas as facções politicas que se sucederam até à sua morte. Sendo solto, foi para Coimbra, seguindo depois para Vila Real, quando as aulas se fecharam por causa da revolução popular, que ficou conhecida por “Maria da Fonte”.
Em Vila Real escreveu o seu primeiro drama, Agostinho de Ceuta, que se representou com o maior agrado no teatro daquela vila por curiosos. Em 1848 fixou a sua residência no Porto.
Camilo tenta então o curso de Medicina no Porto que não conclui, optando depois por Direito. A partir de 1848 faz uma vida de boémia repleta de paixões, repartindo o seu tempo entre os cafés e os salões burgueses, dedicando-se entretanto ao jornalismo.
Apaixona-se por D. Ana Augusta Plácido, duma família distinta do Porto, e quando esta se casa, tem de 1850 a 1852, uma crise de misticismo, chegando a frequentar o seminário episcopal do Porto que depois abandona. Ana Plácido tornara-se mulher de um negociante de seu nome, Pinheiro Alves, um brasileiro que o inspira como personagem em algumas das suas novelas, muitas vezes com carácter depreciativo.
Seduz e rapta Ana Plácido. Quando lhe instauraram o processo criminal, assaltou-o uma exacerbação nervosa, e vendo-se perseguido pela justiça, viveu a monte. Saiu do Porto em Maio do referido ano de 1860 pelo arrabalde de Bonfim, pensando na tranquila aldeia de Samardã, onde vivera em criança; dirigiu-se a Guimarães, passou à quinta de Briteiros, depois à do Ermo, em Fafe, do seu amigo Vieira de Castro, seguiu a Vila Real, passou a serra do Marão a 2 de Julho de 1860, esteve em Amarante e ainda em outras partes, voltando finalmente ao Porto em Setembro, para se entregarem às autoridades sendo julgados e depois presos, em 1 de Outubro. Naquela época o caso emocionou a opinião pública pelo seu conteúdo tipicamente romântico do amor contrariado, que se ergue à revelia das convenções e imposições sociais.
Na cadeia buscava distracção e os recursos de subsistência nos trabalhos literários, traduzindo romances, escrevendo folhetins e os pequenos contos Doze casamentos felizes, com os romances originais Anos de prosa, Romance dum homem rico e Amor de perdição. Na prisão recebeu a visita do rei D. Pedro V, em 1861, e nesse ano foi julgado a 17 de Outubro em audiência de júri, ficando absolvidos do crime de adultério. Depois Camilo e Ana Plácido passam a viver juntos, contando ele trinta e oito anos de idade.
Camilo Castelo Branco achou-se novamente ligado à mulher que o seu talento literário deslumbrara.
Entretanto, Ana Plácido tem um filho, teoricamente do seu antigo marido, ao que se somam mais dois de Camilo. Com uma família tão numerosa para sustentar Camilo, entregou-se a um activo trabalho, escrevendo, um ritmo alucinante, sucessivos livros, que os editores compravam, vendendo-se prontamente as edições.
Pensou depois em ser empregado publico, e em 1862 veio a Lisboa, mas os ares da capital eram prejudiciais à sua saúde, e poucos anos se demorou, retirando-se para a quinta de S. Miguel de Seide, que pertencia a D. Ana Plácido. A natureza campestre não o pacificou; o isolamento despertava-lhe uma sensibilidade mórbida, que se converteu em nevralgias, que o não deixavam demorar-se num sitio, ora em Braga, no Bom Jesus do Monte, ora na Povoa de Varzim, no Porto, na Foz, tendo apenas um único alivio, o trabalho mental.
Camilo Castelo Branco vinha regularmente à Póvoa de Varzim entre 1873 e 1890, perdendo-se no jogo e escrevendo parte da sua obra no antigo Hotel Luso-Brazileiro junto do Largo do Café Chinês. Camilo reunia-se com personalidades de notoriedade intelectual e social, como o pai de Eça de Queirós, José Maria d'Almeida Teixeira de Queirós, magistrado e par do reino, o poeta e dramaturgo poveiro Francisco Gomes de Amorim, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, António Feliciano de Castilho, entre outros. Sempre que vinha à Póvoa, convivia regularmente com o Visconde de Azevedo no Solar dos Carneiros.
Em 1885 é-lhe concedido o título de visconde de Correia Botelho e posteriormente, a 9 de Março de 1888 casa-se finalmente com Ana Plácido, que tinha enviuvado do seu primeiro marido.
Camilo passa os últimos anos da sua vida ao lado de Ana Plácido, não encontrando a estabilidade emocional por que ansiava. As dificuldades financeiras e os desgostos de família aumentaram-lhe ainda os sofrimentos; a morte duma netinha de 3 anos, que muito estimava, a loucura irremediável de seu filho Jorge, e a irresponsabilidade do seu filho mais velho, Nuno, levaram-no ao desespero que lhe sugeriu a ideia do suicídio.
A progressiva e crescente cegueira (causada pela sífilis), impede Camilo de ler e de trabalhar capazmente, o que o mergulha num enorme desespero.
Camilo Castelo Branco, depois da consulta a um oftalmologista que lhe confirmara a gravidade do seu estado, em desespero desfere um tiro de revólver na têmpora direita, às 15h15 de 1 de Junho de 1890, acabando por morrer às 17h00 desse mesmo dia.



Principais Obras:

- Anátema (1851)
- Mistérios de Lisboa (1854)
- A Filha do Arcediago (1854)
- Livro negro de Padre Dinis (1855)
- A Neta do Arcediago (1856)
- Onde Está a Felicidade? (1856)
- Um Homem de Brios (1856)
- Lágrimas Abençoadas (1857)
- Cenas da Foz (1857)
- Carlota Ângela (1858)
- Vingança (1858)
- O Que Fazem Mulheres (1858)
- O Morgado de Fafe em Lisboa (Teatro, 1861)
- Doze Casamentos Felizes (1861)
- O Romance de um Homem Rico (1861)
- As Três Irmãs (1862)
- Amor de Perdição (1862)
- Memórias do Carcere (1862)
- Coisas Espantosas (1862)
- Coração, Cabeça e Estômago (1862)
- Estrelas Funestas (1862)
- Cenas Contemporâneas (1862)
- Anos de Prosa (1863)
- Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado (1863)
- O Bem e o Mal (1863)
- Estrelas Propícias (1863)
- Memórias de Guilherme do Amaral (1863)
- Agulha em Palheiro (1863)
- Amor de Salvação (1864)
- A Filha do Doutor Negro (1864)
- Vinte Horas de Liteira (1864)
- O Esqueleto (1865)
- A Queda dum Anjo (1866)
- O Santo da Montanha (1866) - A Bruxa do Monte Córdova (1867)
- A doida do Candal (1867)
- Os Mistérios de Fafe (1868)
- O Retrato de Ricardina (1868)
- Os Brilhantes do Brasileiro (1869)
- A Mulher Fatal (1870)
- A Infanta Capelista (1872) (conhecem-se apenas 3 exemplares deste romance porque D.Pedro II pediu a Camilo para não o publicar, uma vez que versava sobre um familiar da Família Real Portuguesa e da Família Imperial Brasileira)
- O Carrasco de Victor Hugo José Alves (1872)
- O Regicida (1874)
- A Filha do Regicida (1875)
- A Caveira da Mártir (1876)
- Novelas do Minho (1875-1877)
- Eusébio Macário (1879)
- A Corja (1880)
- A senhora Rattazzi (1880)
- A Brasileira de Prazins (1882)
- O Arrependimento
- O Assassino de Macario
- D. Antonio Alves Martins: bispo de Vizeu
- Folhas Caídas
- O General Carlos Ribeiro
- A Gratidão
- Luiz de Camões
- Sá de Miranda
- Salve, Rei!
- Suicida
- O vinho do Porto
- Voltareis ó Cristo?
- Theatro comico: A Morgadinha de Val d'Amores; Entre a flauta e a Viola

Trabalho realizado por André Ricardo Leitão



















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