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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Lenda do Gigante Marão


A lenda do gigante Marão

Noutros tempos aparecia na serra do Marão um gigante que atemorizava os habitantes das aldeias, especialmente os pastores, pois alimentava-se com os animais que lhe roubava, os quais abocanhava e comia duma só dentada, como se de um simples “papo seco” se tratasse. As pessoas evitavam afastar-se para longe dos seus povoados, pois a própria figura do gigante metia medo: a cabeça era grande e achatada, e na testa, bem ao meio, tinha apenas um olho, um olho enorme, bugalhudo, que avistava tudo a grande distância. As guedelhas e as barbas eram longas e desajeitadas. Mais pareciam silvados.Um dia, um pastor de uma aldeiazinha das fraldas da serra com apenas 1500m2 de área, tido como pessoa que usava mais miolos que a força, resolveu dar uma lição ao gigante e acabar com a ameaça que a sua presença representava para todos. Vai daí, pegou no rebanho e meteu-se ao caminho, serra acima, sem dar ouvidos a quantos lhe desaconselhavam a aventura – ou não fosse ele o homem pequeno e raquítico de aspecto, a contrastar com o “trambolho” que o esperava.E sem precisar de andar muito, lá lhe apareceu o gigante, pronto a fazer um banquete com as ovelhas.- Com que então resolveste vir ter comigo!... Ainda bem, pois estou em jejum e já tenho a barriga a roncar! – disse o gigante.- Pois olha que eu não tenho medo de ti! Sou até capaz de te vencer! – reagiu o pastor.- O quê?! Ora mostra lá o que és capaz de fazer!O pastor tirou do bolso um bocado de queijo de cabra fresco, e disse:- Estás a ver este seixo? Pois olha o que eu faço com ele! – E começou a espremê-lo com a mão, fazendo sair um líquido amarelado, que mais não era que o soro do queijo, o que deixou o gigante boquiaberto. – Agora vê lá tu se és capaz de fazer o mesmo!O gigante arrancou uma fraga do chão, espremeu-a com quanta força tinha, e … nada. Depois pegou em outra e foi o mesmo. Até que desistiu.- Ainda não acreditas que sou mais forte do que tu? – perguntou o pastor.– Então vamos ver agora quem é capaz de atirar uma pedra mais longe. Podes ser tu o primeiro.O gigante pegou numa pedra enorme e lançou-a para tão longe que acabou por ir cair noutra montanha. E, todo satisfeito, já a cantar vitória, diz para o rival:- Vá lá, faz agora tu o mesmo!- Faço, sim senhor!O pastor meteu a mão ao bolso, onde trazia um pardal, e soltou-o no mesmo instante. O pássaro, farto de estar cativo, voou como uma seta, e para tão longe que nem o pastor nem o gigante o conseguiram alcançar com a vista.Espantado com tamanha habilidade, o gigante ainda assim se aprontou para aceitar um desafio que o pastor lhe lançou:- Vês ali aquele pinheiro? – perguntou, apontando para um que era o mais grosso de todos. – Ora vamos lá ver quem é, dos dois, que o consegue dobrar!O gigante nem hesitou, convencido de que aquilo era, sem qualquer dúvida, uma proeza que só ele poderia realizar. Deitou as mãos ao tronco do pinheiro e, auxiliado com o peso do próprio corpo, fez quanta força pôde até que dobrou, ao ponto de a ramagem tocar no chão. E foi nesse momento que o pastor o interrompeu, dizendo-lhe:- Tira agora daí as mãos, que o quero dobrar eu!O gigante abriu as mãos e o resultado não podia ser outro: o pinheiro soltou-se e foi desferir-lhe tamanha cacetada na cabeça que o deixou a ver estrelas, ficando estendido no chão, atordoado e sem forças para se mexer.O pastor, que considerou cumprida a sua missão, tratou de fugir, com as ovelhas, e com a rapidez que podia. Um pouco mais baixo, teve de atravessar uma ribeira onde encontrou várias mulheres a lavar as tripas de um porco para o fumeiro. E pediu-lhes:- Se o gigante aqui passar, e perguntar por mim, dizei-lhe que eu passei a correr e que, para ir mais leve e correr mais, deixei ficar as tripas, essas que estais aí a lavar. E dizei-lhe também que, quando estiverem vazias e limpas, eu volto a passar aqui para as meter outra vez na barriga.E, dito o recado, continuou o caminho. Daí a pouco, chegou o gigante, ainda meio atordoado, e perguntou pelo pastor. Como resposta, recebeu o recado que o pastor deixou.Perante tal resposta, o gigante não perdeu tempo a pensar. Apenas o mínimo: “Se o pastor tirou as tripas para ir mais leve, porque não hei-de eu fazer também o mesmo? Afinal, as minhas sempre pesam mais!...”. E, se depressa pensou, mais depressa o fez. Pegou na faca de matar os porcos e espetou-a na própria barriga. E dali já não saiu mais. A serra do Marão livrou-se de tão incómoda criatura, e o pastor foi glorificado pela sua esperteza.

Lenda adaptada por Alexandre Parafita

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