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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Figuras Ilustres de Vila Real



Miguel Torga

Oriundo de uma família humilde de Sabrosa, era filho de Francisco Correia Rocha e Maria da Conceição Barros. Em 1917, aos dez anos, foi para uma casa apalaçada do Porto, habitada por parentes da família. Fardado de branco, servia de porteiro, moço de recados, regava o jardim, limpava o pó, polia os metais da escadaria nobre e atendia campainhas. Foi despedido um ano depois, devido à constante insubmissão. Em 1918 foi mandado para o Seminário de Lamego, onde viveu um dos anos cruciais da sua vida. Estudou Português, Geografia e História, aprendeu latim e ganhou familiaridade com os textos sagrados. Pouco depois comunicou ao pai que não seria padre.
Emigrou para o Brasil em 1919, com quinze anos, para trabalhar na fazenda do tio, proprietário de uma exploração de café. O tio apercebe-se da sua inteligência e patrocina-lhe os estudos liceais, em Leopoldina. Distingue-se como um aluno dotado. Em 1925, na convicção de que ele havia de vir a ser doutor em Coimbra, o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço - o que levou ao seu regresso a Portugal.
Em 1928 entra para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro de poemas, Ansiedade. Em 1929, com vinte e dois anos, deu início à colaboração na revista Presença, folha de arte e crítica, com o poema Altitudes. A revista, fundada em 1927 pelo grupo literário avançado de José Régio, Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, era bandeira literária do grupo modernista e era também, bandeira libertária da revolução Modernista. Em 1930 rompe definitivamente com a revista Presença, por «razões de discordância estética e razões de liberdade humana».
É bastante crítico da praxe e das restantes tradições académicas, e chama depreciativamente «farda» à capa e batina, mas ama a cidade de Coimbra, onde viria também a exercer a sua profissão de médico a partir de 1939 e onde escreve a maioria dos seus livros. Em 1933 concluiu a licenciatura em Medicina, com apoio do tio do Brasil. Começou a exercer a profissão nas terras agrestes transmontanas, de resto, o pano de fundo de grande parte da sua obra.
Casou-se com Andrée Crabbé em 1940, uma estudante belga que, enquanto aluna de Estudos Portugueses, com Vitorino Nemésio em Bruxelas, viera a Portugal fazer um curso de verão na Universidade de Coimbra. O casal teve uma filha, Clara Rocha, nascida a 3 de Outubro de 1955, e divorciada de Vasco Graça Moura.

A origem do pseudónimo
Em 1934, aos 27 anos, Adolfo Correia Rocha autodefine-se pelo pseudónimo que criou, "Miguel" e "Torga". Miguel, em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. Já Torga é uma planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule incrivelmente rectilíneo. A sua campa rasa em São Martinho de Anta tem uma torga plantada a seu lado, em honra ao poeta.

A obra de Torga

A obra de Torga tem um carácter humanista: criado nas serras trasmontanas, entre os trabalhadores rurais, assistindo aos ciclos de perpetuação da Natureza, Torga aprendeu o valor de cada homem, como criador e propagador da vida e da Natureza: sem o homem, não haveria searas, não haveria vinhas, não haveria toda a paisagem duriense, feita de socalcos nas rochas, obra magnífica de muitas gerações de trabalho humano. Ora, estes homens e as suas obras levam Torga a revoltar-se contra a Divindade Transcendente a favor da imanência: para ele, só a humanidade seria digna de louvores, de cânticos, de admiração: (hinos aos deuses, não/os homens é que merecem/que se lhes cante a virtude/bichos que cavam no chão/actuam como parecem/sem um disfarce que os mude).
Para Miguel Torga, nenhum deus é digno de louvor: na sua condição omnisciente é-lhe muito fácil ser virtuoso, e enquanto ser sobrenatural não se lhe opõe qualquer dificuldade para fazer a Natureza - mas o homem, limitado, finito, condicionado, exposto à doença, à miséria, à desgraça e à morte é também capaz de criar, e é sobretudo capaz de se impor à Natureza, como os trabalhadores rurais trasmontanos impuseram a sua vontade de semear a terra aos penedos bravios das serras. E é essa capacidade de moldar o meio, de verdadeiramente fazer a Natureza mau grado todas as limitações de bicho, de ser humano mortal que, ao ver de Torga fazem do homem único ser digno de adoração.
Considerado por muitos como um avarento de trato difícil e carácter duro, foge dos meios das elites pedantes, mas dá consultas médicas gratuitas a gente pobre e é referido pelo povo como um homem de bom coração e de boa conversa.
Torga era conhecido popularmente nos meios intelectuais de Coimbra como o rei dos chatos.

Prosa
• 1931 - Pão Ázimo.
• 1931 - Criação do Mundo.
• 1934 - A Terceira Voz.
• 1937 - Os Dois Primeiros Dias.
• 1938 - O Terceiro Dia da Criação do Mundo.
• 1939 - O Quarto Dia da Criação do Mundo.
• 1940 - Bichos.
• 1941 - Contos da Montanha."Diário I"
• 1942 - Rua.
• 1943 - O Senhor Ventura. "Diário II"
• 1944 - Novos Contos da Montanha.
• 1945 - Vindima.
• 1946 - "Diário III".
• 1949 - "Diário IV".
• 1951 - Pedras Lavradas. "Diário V".
• 1953 - "Diário VI".
• 1956 - "Diário VII".
• 1959 - "Diário VIII".
• 1964 - "Diário IX".
• 1968 - "Diário X".
• 1973 - "Diário XI".
• 1974 - O Quinto Dia da Criação do Mundo.
• 1976 - Fogo Preso.
• 1981 - O Sexto Dia da Criação do Mundo.
• 1982 - Fábula de Fábulas.

Peças de teatro
• 1941 - "Terra Firme" e "Mar".
• 1947 - Sinfonia.
• 1949 - O Paraíso.
• 1950 - Portugal.
• 1955 - Traço de União.

Traduções
Livros seus estão traduzidos para diversas línguas, algumas vezes publicados com um prefácio seu: espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês, croata, romeno, norueguês, sueco, holandês, búlgaro.

Prémios
O Wikiquote tem uma colecção de citações de ou sobre: Miguel Torga.
• 1969 - Prémio do Diário de Notícias.
• 1976 - Prémio Internacional de Poesia de Knokke-Heist.
• 1980 - Prémio Morgado de Mateus, ex-aecquo com Carlos Drummond de Andrade.
• 1981 - Prémio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S..
• 1989 - Prémio Camões.
• 1991 - Prémio Personalidade do Ano.
• 1992 - Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores.
• 1993 - Prémio da Crítica, consagrando a sua obra.

Trabalhado realizado por Diogo Miguel Carvalho

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